O ano de 2016 já entrou para a História como aquele em que atingiu o seu auge o movimento estudantil secundarista em nosso país: em Outubro de 2016, mais de 1.100 escolas e universidades públicas foram ocupadas pelo Brasil afora. Neste documentário, buscamos revelar a juventude cidadã da cidade de Goiânia, através de 2016, realizando intensas intervenções urbanas e manifestações públicas em prol da Educação. "Escola de Luta" mostra que as okupas que disseminaram-se em Outubro de 2016, envolvendo também escolas e faculdades em Goiás, não surgiu do nada, mas é mais um fruto de um movimento que vem se fortalecendo e se manifestando durante todo o ano (e que realizou vários feitos importantes nos anos precedentes também). Este documentário procura registrar alguns dos momentos mais intensos e significativos do movimentos estudantil secundarista aqui em Goiânia, em 2016, em um projeto de mídia alternativa que busca sintonizar-se, em matéria de vertente política e estética, a trabalhos semelhantes realizados por coletivos como Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Desneuralizador etc.
Dividido em três capítulos - “Escola de Luta”, “Não Tem Arrego” e “Ô M.P.!” - este filme registra todo a diversidade e colorido dos secundaristas de luta, flagrados em três diferentes manifestações: 1) uma intervenção no Ministério Público, em fevereiro de 2016, na qual os jovens e ruidosos cidadãos ocuparam provisoriamente o prédio do M.P. e obtiveram uma reunião-de-saguão com o promotor Fernando Krebs; 2) uma grande passeata no dia do Estudante, em 11 de Agosto, quando o cruzamento da Anhanguera com a Goiás foi palco de happenings, discursos, saraus e outras intervenções, incluindo um escracho contra a estátua do bandeirante genocida; e 3) uma significativa manifestação, no mês de Setembro, que concentrou-se na Praça A em Campinas e depois dirigiu-se à sede da Seduce, onde o projeto das OSs, a cargo da secretária Raquel Teixeira e sua equipe, tramita com muita dificuldade devido às inúmeras irregularidades do processo, cujo edital já foi derrubado algumas vezes também por efeito da pressão do movimento social aqui registrado.
"A nossa luta é todo dia; educação não é mercadoria!“ pode servir como emblema desta mobilização, de intenso protagonismo juvenil, que contesta as lógicas hegemônicas, impostas pelo governo Marconi Perillo (PSDB), que apenas pretendem privatizar o ensino, elitizar o acesso à educação de qualidade e assim perpetuar as fraturas sociais do estado de Goiás e do país em geral. Este filme busca proporcionar uma imersão neste efervescente movimento e abrir janelas de conscientização que permitam enxergar estes jovens não como parte do problema, mas sim como colaboradores cruciais na co-construção das soluções.
O filme utiliza alguns trechos musicais significativos, extraídos de canções de Ana Tijoux ("Doutrina Del Shock”), Legião Urbana (“Baader-Meinhof Blues”), Raul Seixas (“Mosca na Sopa”), dentre outros. Busca realizar no âmbito do cinema documental algo que, além de registro do real, possa ser enxergado também como produto cultural em seu próprio mérito. "Escola de Luta", em quase 50 minutos de duração, busca fornecer um modo do espectador “embarcar” no epicentro pulsante de manifestações, proporcionando uma espécie de vivência emocional-intelectual do que significa participar de um ato cívico dos “secundas”. O filme busca agregar os recursos audiovisuais à disposição no sentido de forjar uma obra preocupada com uma montagem que permita ao espectador imergir no caudaloso rio das passeatas, acompanhar o fluxo das marchas, abrindo chances cinemotráficas para uma empática conexão com as pessoas aqui retratadas, pelo cineasta, com muito entusiasmo e espírito de concórdia e solidariedade. A intenção principal foi a de possibilitar aos espectadores, a maioria deles ausentes nestas manifestações, uma oportunidade de serem comovidos, ou até transformados, pelos discursos e feitos retratados.
Em matéria de montagem, o diretor inspirou-se muito nas teorizações do grande cineasta soviético Sergei Eisenstein, em seu livro “O Sentido do Filme” (Ed. Zahar, saiba mais: https://acasadevidro.com/2016/10/30/o-sentido-do-filme-1942-um-livro-de-sergei-eisenstein/), de modo que, guardadas as devidas proporções, este documentários busca uma verve Eisensteiniana no retrato dessas massas de estudantes que vêm descobrindo na política, na participação social, na invenção de um novo mundo possível, um modo de aprenderem com a vida e ensinarem uns aos outros. "Escola de Luta" poderia também se chamar "Escola da Vida", mostrando processos de educação que ocorrem para além dos muros da escola, num co-aprendizado realizado por estes estudantes que fazem-se solidários numa luta por uma causa comum, admiravelmente resilientes e ousados. Este filme é uma homenagem a eles; quase um panegírico. É um doc dedicado, por este jovem professor que tanto aprendeu com seus alunos, àqueles estudantes não querem só passar de ano, querem passar à História.